Zoran Djindjic, o Primeiro-ministro sérvio que iniciou a transição no país morreu há 15 anos
Ontem (12/03/2018) cumpriram-se 15 anos sobre o assassinato do primeiro-ministro em funções, o reformador Zoran Djindjic. Em 2003 a Sérvia era um país em transição (ainda é hoje em dia), com um passado recente muito complicado.
Contexto Histórico
Em 1991 iniciou-se a dissolução da Jugoslávia da qual a Sérvia fazia parte e era a maior região. Iniciou-se a guerra na Croácia e no ano seguinte na Bósnia e Herzegovina. Entre 1991 e 1993 o país viveu um período gravíssimo de hiperinflação, uma escalada diária de preços acentuadíssima que tornou a vida dos sérvios quase impossível. Para piorar a situação a comunidade internacional impôs um embargo ao país. Assim, sem acesso aos mercados internacionais os bens de primeira necessidade como produtos alimentares e combustíveis desapareceram dos supermercados e bombas de gasolina. A eletricidade era racionada e falhava constantemente.
Em 1995 terminaram as guerras na Croácia e Bósnia mas a Sérvia foi continuando a sua deriva nacionalista e isolacionista comandado pelo presidente Slobodan Milosevic até ao final da década. Enquanto o resto da Europa de Leste se modernizava e abria à economia de mercado no seguimento da queda do Muro de Berlim (1989), a Sérvia definhava devido à sua classe política que perdeu a oportunidade histórica de cortar com a anterior visão política e de se modernizar. De crise em crise a população foi sobrevivendo até que em 1998 nova guerra se inicia no Kosovo, desta vez dentro das próprias fronteiras do país, naquela região maioritariamente habitada por albaneses. Em 1999 a comunidade internacional (através da NATO) decidiu bombardear a Sérvia como forma de obrigar a terminar as hostilidades na região do Kosovo, o que veio agravar ainda mais a sua debilitada economia e sobrevivência da população. Agora tínhamos boa parte da infra-estrutura do país destruída bem como a maior parte das grandes fábricas e indústrias.
No ano 2000 dá-se uma eleição para a presidência do país, a qual Milosevic reclama ter ganho, embora de forma fraudulenta. Seguem-se manifestações massivas e este joga todas as cartas que tem para se manter no poder, chamando o exército, que o apoiava. O país está dividido entre manter a linha dura da última década e mudar, modernizar-se e reaproximar-se dos valores europeus e balança perigosamente para uma guerra civil. No entanto no dia 5 de Outubro de 2000 dá-se a “Revolução da Retroescavadora” e Milosevic acaba por reconhecer que perdeu as eleições e cede o poder. A população, cansada de uma década marcada por guerras e empobrecimento generalizado, não acredita mais em promessas e reclama por mudança.
Djindjic, o rosto da mudança
É aqui que surge Zoran Djindjic como novo líder, reformista, e que quer terminar o período negro dos anos 90 e dirigir o país em direcção à União Europeia. Djindjic já tinha aparecido como uma das figuras da oposição democrática ao regime autoritário de Milosevic desde 1990.
Djindjic tinha sido, desde bastante jovem, um oposicionista ao regime. Enquanto estudante universitário tentou fundar um movimento independente, junto com estudantes croatas e eslovenos (então todos integrantes da Jugoslávia). Esta ousadia valeu-lhe uma condena a prisão por parte das autoridades comunistas e posteriormente decidiu exilar-se na Alemanha, tendo nesse país alcançado o grau de Doutor em Filosofia, em 1979. Em 1989 regressa à (ainda) Jugoslávia para ser professor na Universidade de Novi Sad, a segunda maior cidade da Sérvia. Nesse mesmo ano fundaria, junto com outros intelectuais e activistas pró-democráticos, o Partido Democrático e seria eleito para o Parlamento sérvio em 1990. Em 1997 consegue ser eleito Presidente da Câmara de Belgrado, o primeiro não pertencente ao partido comunista desde o final da 2ª Guerra Mundial.
Assim, ao ser um reformista e lutar contra o status quo, Djindjic granjeou imensos inimigos, sobretudo entre as fileiras do “antigo regime”. Após substituir Slobodan Milosevic no poder entregou-o ao Tribunal Penal Internacional formado em Haia, Holanda, para investigar e julgar os crimes de guerra praticados nas guerras da ex-Jugoslávia e prometeu quebrar o poder que as máfias tinham alcançado no país durante os anos 90. Cumpriu apenas 2 anos de mandato, tendo sido assassinado de 2 disparos mortais.
Legado e transição democrática
Na Sérvia é muitas vezes apontado como o único político sério que realmente quis mudar o país para melhor, embora, como sempre em política, as opiniões dividem-se. Após estes acontecimentos em 2003, o país continuou o seu processo de transformação. Em 2006 o Montenegro, que ainda se encontrava ligado à Sérvia numa federação já muito fraca declarou a sua independência. O nome oficial do país até então era precisamente Sérvia e Montenegro. Em 2008 a região do Kosovo declarou unilateralmente a independência apesar de a Sérvia não a reconhecer, bem como 5 países da União Europeia ou outros grandes países como o Brasil, a China ou a Rússia, que vai protegendo os interesses sérvios junto das instituições internacionais, nomeadamente na ONU.
Passados 15 anos do assassinato o seu legado é difícil de avaliar. Não teve tempo de implementar as reformas desejáveis, mas iniciou a transição para um país diferente que ainda está a sarar as feridas de todos os eventos dos últimos 30 anos, a resolver o passado para se focar no futuro. Apesar de ainda haver inúmeros problemas sociais e políticos e a corrupção ser ainda um grave problema, a Sérvia é hoje um país em recuperação, com a economia a melhorar e politicamente e socialmente pacífico. O turismo floresce e a União Europeia estabeleceu, recentemente, a meta de 2025 para o país integrar o espaço único europeu.
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Foto: Wikipedia